Depois do Globo de Ouro, mudou tudo... ou quase



O Globo de Ouro chegou para organizar as coisas na corrida para o Oscar. Um filme reafirmou sua condição de frontrunner, outros viram suas candidaturas enfraquecerem (e, em alguns casos, evaporarem) e mais alguns que andavam meio desacreditados viram suas campanhas cristalizadas com essa ou aquela indicação. O favorito, todo mundo sabe, é Brokeback Mountain, que pelo email de divulgação que chegou para mim, deverá receber o título de O Segredo de Brokeback Mountain no Brasil. O filme de Ang Lee derrubou todos os concorrentes e, o mais importante, derrubou todos os preconceitos: um filme de temática gay e um filme que ganhou um dos principais festivais de cinema, o de Veneza.

Ao ver seus principais concorrentes sendo derrubados pelas críticas e pelos prêmios, Brokeback Mountain somente concorre contra si mesmo. O perfil conservador do acadêmico médio pode não achar muito legal dar o prêmio para um filme sobre amor entre dois homens, mas Ang Lee é tão clássico e sóbrio no tratamento que dá à história que esse preconceito pode aparecer diluído. O prêmio ainda é duvidoso, mas a indicação é mais do que certa.

Brokeback Mountain conseguiu as esperadas indicações para melhor diretor, ator (Ledger parece confirmadíssimo no Oscar), atriz coadjuvante (Williams, outra favorita), roteiro, trilha e canção. Jake Gyllenhaal perdeu a chance de Ter sua candidatura reforçada, mas não está fora do páreo, embora perca na comparação com o impacto da performance de seu colega de elenco. Mas que filmes devem acompanhar o de Ang Lee entre os indicados ao Oscar? A lista que já teve candidatos esdrúxulos como The Family Stone, está cada vez menor.

O quadro dos últimos prêmios (National Board of Review, Nova York, Los Angeles, Broadcast Film Critics e Globo de Ouro) indica que Good Night, and Good Luck., do George Clooney, deve ser o segundo filme com vaga garantida entre na categoria principal na noite do Oscar. Impressionante já que o filme é em preto-e-branco, característica da qual os acadêmicos adoram passar longe (com a exceção de A Lista de Schindler, há 12 anos). O principal marketeiro do filme é seu diretor: Clooney é imensamente carismático (foi indicado como coadjuvante por Syriana –e tem chances) e se formou um consenso sobre a qualidade de seu longa, que realmente é muito bom. Parece ser o único a ameaçar uma vitória sobre Ang Lee.



David Strathairn, de Good Night, and Good Luck., disputava com Eric Bana, de Munique, uma das vagas entre os melhores atores e, ao que parece, está conseguindo. A performance de Bana não impressionou ninguém. Até agora não houve menção enquanto Strathairn aparece em várias listas. Ainda no filme de Clooney, Frank Langella viu um prêmio voltar a dar esperança de indicação, embora tenha sido apenas um prêmio. Os coadjuvantes do filme de Steven Spielberg tiveram sorte pior: ninguém foi mencionado, nem sequer o cotado Geoffrey Rush.

Se Schindler rompeu barreiras em 1993, Munique não deve fazer o mesmo neste ano. Steven Spielberg viu hoje seu filme nem sequer ser indicado ao Globo de Ouro - e olha que aqui há duas categorias para melhor filme. A exclusão ajudou a derrubar suas pretensões de vitória. A campanha agora deverá se concentrar em conseguir a indicação. O King Kong de Peter Jackson, que vinha crescendo nas apostas apesar de não ter ganho nada além de citações, também não apareceu na lista. E agora, o que pensar? Quem vai pra lista do Oscar? O curioso é que tanto Spielberg quanto Jackson estão na lista de melhor diretor do Globo de Ouro. Munique, no entanto, foi absolutamente esquecido nas categorias de elenco, nas quais eram bastante lembrado, assim como King Kong, cujo resultado esvaiu as chances de Naomi Watts.

Outro filme que estava bem no ranking foi esquecido na categoria principal do Globo de Ouro e – o mais grave – entre os diretores também. O tétrico Crash, filme ruim com pretensões de denúncia social, ganhou apenas as certeiras indicações de roteiro e ator coadjuvante para um insosso Matt Dillon. Memórias de uma Gueixa, que já não vinha bem das pernas, foi sepultado de vez com a citação solitária da Zhang Ziyi, que não é muito certeza, não, e uma de trilha sonora. Nem Gong Li? Bem, ela apareceu em alguns prêmios, mas nada que fosse muito animador. O que pode ajudá-la é que a categoria de atriz coadjuvante geralmente tem indicadas bem diferentes na comparação Globo de Ouro-Oscar.

A exclusão de A Luta pela Esperança na lista do Globo de Ouro veio a calhar quando algumas pessoas começavam a querer ressucitá-lo para o Oscar. Apenas Paul Giamatti, que está forte entre os coadjuvantes, e Russell Crowe, ainda incerto entre os protagonistas, foram lembrados. Para mim, já está fora. O Novo Mundo naufragou com a estréia monumentalmente: apenas trilha sonora. Para mim, está fora demais. Capote, que vinha crescendo nas apostas para a categoria principal, também não emplacou. Acho que é um filme para outros quesitos: Philip Seymour Hoffman deve ganhar o Oscar de ator e Catherine Keener, mesmo não indicada ao Globo de Ouro, está fortíssima. Surpreendeu a ausência em roteiro, o que deve ser corrigido no Oscar.



Quem ganhou com as indicações do Globo de ouro foram, em primeiro plano, três filmes: 1) O Jardineiro Fiel, que está com chances impulsionadas em melhor filme e melhor diretor, sobretudo diante do fracasso dos outros contenders. Fiennes não foi indicado, mas Weisz aparece na lista das coadjuvantes, o que reforça e muito sua candidatura; 2) Marcas da Violência, que mesmo não tendo Cronenberg entre os diretores, marcou pontos. Maria Bello, que faz campanha como coadjuvante, apareceu entre as protagonistas. Acho que se trata de uma indicação certa (como coadjuvante). William Hurt, mesmo não indicado ao Globo de Ouro, não perde as chances; e 3) Match Point, que andava tão desacreditado, surgiu com citações em filme, direção, roteiro e atriz coadjuvante, Scarlett Johansson, que deve ser indicada até pelo fato de terem esquecido dela em Encontros e Desencontros.

A Lula e a Baleia apareceu bem: comédia (mais ou menos, né?), ator e atriz. Não foi indicado em roteiro, mas é nesta categoria mesmo que suas chances foram reforçadas pelas indicações. Walk the Line apareceu com o básico e inevitável: comédia, Phoenix e Whitterspoon. Acho muito difícil ultrapassar as barreiras dos quesitos de elenco e Phoenix e Whitterspoon não são mais tão favoritos. Sra. Henderson Apresenta fez o mesmo caminho, mas só emplaca melhor filme se a campanha pós-Miramax dos Weisntein convencer a Academia. Isso já funcionou antes e como filmes bem piores. Judi Dench e Bob Hoskins me parecem certos.

E funcionou. Orgulho e Preconceito, vendido como comédia, emplacou filme e atriz. Keira Knightley é fortíssima candidata ao Oscar e o roteiro deve emplacar também. Os Produtores me parece opção para fechar a lista. A inclusão de Will Ferrell entre os coadjuvantes não deve dar em nada (Nathan Lane também tem míseras chances). A candidatura de Uma Thurman acabou. Transamerica deu indicação a Felicity Huffman, certeza no Oscar, mas Charlize Theron, mesmo lembrada por Terra Fria, ainda não me parece uma aposta certa. Frances McDormand, grande atriz, teve as suas chances reforçadas como coadjuvante no mesmo filme. A estratégia do estúdio de mover Diane Keaton para coadjuvante por The Family Stone fracassou completamente. Não foi indicada a nada e o Globo de Ouro só fez confirmar isso. Somente deverá aparecer no Oscar por milagre. E ainda viu a Sarah Jessica Parker na lista do Globo de Ouro!

A indicação de Terrence Howard, como melhor ator por Hustle & Flow, parece cada vez mais certa, outras nem tanto. Shirley MacLaine saiu do limbo no Globo de Ouro, mas parece ainda muito frágeis suas chances como coadjuvante por Em Seu Lugar. A indicação de Cillian Murphy por Café da Manhã em Plutão não deve dar em nada (infelizmente), como a de Gwyneth Paltrow, em A Prova, ou a de Johnny Depp, em A Fantástica Fábrica de Chocolate, que não elegeu o favorito de sempre do Globo de Ouro Danny Elfman entre as trilha sonoras. A Noiva-cadáver, por sinal, também foi misteriosamente esquecido entre as canções. Pierce Brosnan por O Matador? Nããão... Digam até logo para Joan Allen e Kevin Costner (A Outra Face da Raiva), pelo menos por enquanto, Craig T. Nelson (The Family Stone), Clifton Collins Jr. (Capote) e Q’Orianka Kilcher (O Novo Mundo). Mas eu ainda acho que Amy Adams (Junebug) pode surpreender.

Até sexta, nova rodada de previsões.