[perspectivas: roteiro adaptado]

Começo aqui a postar minha idéia geral sobre as principais categorias do Oscar. A disputa dos roteiros adaptados não é das mais ferrenhas, mas pode trazer algumas surpresas. Olhando para os dez filmes que eu cito aqui como os que mais têm chances de concorrer neste quesito na minha opinião, vê-se que os tempos mudaram: apenas um deles é um real contender na categoria principal, contrário da tradição. A maior dificuldade em se prever algo neste quesito é que, apenas o guild e um prêmio menor ou outro dividem os roteiros em dois. Além disso, tem o prêmio Scripter, só para os adaptados, que, neste ano, foi de encontro ao guild.

1 (1) William Monahan, por Os Infiltrados
2 (3) Todd Field e Tom Perotta, por Pecados Íntimos
3 (10) Aline Brosh McKenna, por O Diabo Veste Prada
4 (2) Patrick Marber, por Notas de um Escândalo
5 (4) Jason Reitman, por Obrigado por Fumar

Curiosamente, um filme como Os Infiltrados, um policial, é o mais cotado para figurar entre os cinco indicados. Sua vaga, inclusive pelo fato de o filme ser um dos favoritos para levar o Oscar, é garantida. Apesar de William Monahan ter sido preterido no Scripter, apareceu entre os finalistas do guild de roteiristas e entre os indicados ao Globo de Ouro. O roteiro se aproveita ainda da campanha competentíssima de promoção do filme, que passou de azarão para um dos mais cotados em dois tempos. E como nenhum outro candidato sério a melhor filme tem chance de aparecer por aqui - a maioria dos contenders é de originais -, as chances ficam mais claras. E olha que temos uma adaptação de um filme de ação orientaç que não nega essa condição.

Pecados Íntimos é probabilíssimo. Além do filme ser um filme de roteiro, não falhou em nenhum precursor: WGA, Scripter e Globo de Ouro. É aquela vaga tradicional para grandes diálogos sobre o íntimo familiar norte-americano com elenco importante. O longa anterior de Todd Field, Entre Quatro Paredes (2001), fez sua carreira seguindo essa linha e emplacou várias indicações. O roteiro também aparece na lista de previsões da Entertainment Weekly e do site The Film Experience.

Notas de um Escândalo não foi indicado pelo WGA, mas está na lista do Scripter e tem roteiro de Patrick Marber, autor de Closer, adaptando mais uma de suas novelas. Tem cara de indicado: filme sério, bem recebido, com elenco respeitável (provavelmente duas atrizes indicadas). O Diabo Veste Prada, best-seller total, também não deve ficar de fora desta categoria. Apesar de parecer fútil e, assim, um filme que não está à altura do Oscar, a presença e a interpretação de Meryl Streep asseguraram legitimidade ao filme. Além disso, foi um sucesso de bilheteria e recebeu belas críticas. Tem tudo para emplacar.

Já Obrigado por Fumar parece ocupar aquela vaga para filmes mais, digamos, ousados, como aconteceu com Anti-Herói Americano (2003), já que a idéia é ser um filme muito inteligente de denúncia. É o indie da vez também. A princípio, só não entra caso a Academia resolva ousar ainda mais, mas não sei se parece ser o caso. No entanto, como não deve figurar em mais nenhuma lista, a candidatura não é tão confiável.

6 (8) Alfonso Cuarón, David Arata & Timothy J. Sexton, por Filhos da Esperança
7 (N) Sacha Baron Cohen, Anthony Hines, Peter Baynham & Dan Mazer, por Borat
8 (N) Neil Burger, por O Ilusionista
9 (11) Jeremy Brock, por O Último Rei da Escócia
10 (6) Tom Nyswaner, por The Painted Veil

Filhos da Esperança é um típico caso de uma indicação que os buzzers mais querem do que prevêem. Pode até entrar, mas se fizer isso terá tido ajuda de sites, blogues e da imprensa em geral. É uma ficção-científica correta, mas que pode parecer material estranho ao Oscar. Clive Owen, Julianne Moore e a onda mexicana podem beneficiar o longa de Alfonso Cuarón. Ganhou o Scripter, mas sequer foi indicado ao WGA. Apesar de ser meu oitavo, depois do WGA e da exclusão de Sacha Baron Cohen do SAG, Borat é uma ameaça real. Parece o único espaço onde um sucesso imenso de bilheteria que ganhou o carinho dos críticos pode aparecer. No entanto, aposto que muitos acadêmicos torceram o nariz.

O Ilusionista tem aparecido em vários lugares nos últimos tempos, o que pode indicar uma probabilidade de última hora, mas, um filme de mágicos? Será mesmo? Tá, é um filme que tem certo respeito, chance de emplacar em mais uma ou duas categorias e somar esse ponto aqui seria coroá-lo, mas ainda tenho dúvidas. O Último Rei da Escócia ganhou reforço do Scripter, mas parece que deve se concentrar na indicação - e provável prêmio - do Forest Whitaker. Por fim, The Painted Veil parecia uma boa aposta, mas chegou tarde demais para ganhar destaque na corrida. Ainda assim, guarda esperanças.