Depois do Globo e antes do Ouro
Bem que o Globo de Ouro poderia ter sido menos previsível. Quase tudo o que se esperava aconteceu. Surpresa, supresa, não teve nenhuma e a ordem foi manter intactos os dois favoritos: O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee, entre os dramas, e Johnny & June, de James Mangold, na categoria dedicada às comédias e aos musicais. O primeiro levou os prêmios de filme, direção, roteiro e canção; o segundo ficou com filme, ator e atriz, cada qual em seu quesito.
O filme de Ang Lee parte como grande favorito ao Oscar. Antes era apenas favorito. O Globo de Ouro fez ele ficar grande. Seria ousadíssimo um filme sobre um romance entre dois cowboys, o símbolo máximo da masculinidade norte-americana, ganhar o Oscar em plena era Bush. O apoio da crítica e a simpatia ao diretor e à dupla de astros jovens são pontos fortíssimos. O filme parece que só concorre contra si mesmo, contra o tradicionalismo e a velharia que muitas vezes impera em Hollywood.
Ang Lee, que eu acreditava que poderia ser ameaçado, sobretudo no Globo de Ouro, por George Clooney na categoria de direção. A Associação dos Correspondentes Estrangeiros adora Clooney, mas preferiu premiá-lo como coadjuvante e entregar o prêmio maior para Lee. Agora, com este aval, o cineasta chinês segue pleno para o Oscar. Resta saber o que vai dizer o Sindicato dos Diretores. A vitória do roteiro não chegou a ser uma surpresa, ainda que Crash e Boa Noite, e Boa Sorte. parecessem ter mais chances.
Heath Ledger, ator, e Michelle Williams, atriz coadjuvante, não ganharam, mas têm indicações certas. Jake Gyllenhaal, que não conseguiu ser finalista no Globo de Ouro, também tem boas chance de disputar o Oscar. O problema do elenco do filme é que todos são muito jovens e a Academia prefere candidatos mais maduros. Além disso todos têm adversários fortes para enfrentar. Philip Seymour Hoffman, por Capote, é mais do que nunca favorito como melhor ator. Felicity Huffman, na mesma escala, se consolida como principal candidata à estatueta de melhor atriz.
Os resultados do Globo de Ouro enfraquecem um pouco as candidaturas de George Clooney e de Boa Noite, e Boa Sorte., embora filme, roteiro e diretor devam estar na lista do Oscar e devem permanecer bem cotados. A vitória de Clooney como coadjuvante, por Syriana, não dá tanta certeza de prêmio para ele no Kodak Theatre. Se tivesse ganho como diretor, estaria mais cotado. Ainda acho que Paul Giamatti, por A Luta pela Esperança, preterido de indicação por duas vezes seguidas, e Matt Dillon, por Crash, numa proposta retorno do limbo, têm mais chances.
A vitória de Rachel Weisz, no entanto, viu sua candidatura com chances multiplicadas. Parece ser a única possibilidade de prêmio para O Jardineiro Fiel. Derrotou Scarlett Johansson, por Ponto Final, que cada vez mais aparece enfraquecida na disputa, mas não teve que enfrentar Maria Bello, pelo excelente Marcas da Violência, que foi indicada como protagonista embora tenha recebido campanha do estúdio como coadjuvante.
Entre as comédias e musicais, não sobrou nada para os concorrentes de Johnny e June, que levou o prêmio principal e mais os de ator para Joaquin Phoenix e atriz para Reese Whitterspoon. Os dois, embora o setor seja menos bem cotado do que o de drama, podem surpreender nas categorias de ator e atriz no Oscar, já que existe uma tradição de premiar - ou pelo menos indicar - biografias (ainda mais de ídolos pop... no caso o cantor country Johnny Cash).
Se o quadro desenhado pelo Globo de Ouro for reprisado no Oscar, tadinho do George Bush, que anda meio antipatizado por Hollywood. Um romance entre dois homens ganharia como filme, direção e roteiro. O melhor ator seria o intérprete de um celebrado escritor gay e a melhor atriz ganharia pelo papel de um transexual. Mas se der coisa diferente, Bush ainda pode se sentir incomodado: George Clooney dirigiu um drama contra a caça aos comunistas e estrelou um thriller político; Crash, apesar de muito ruim, não olha a América como bons olhos; O Jardineiro Fiel ataca os grandes conglomerados; e Paradise Now, favorito para filme estrangeiro, é um filme palestino sobre dois homens-bomba. Seria o fim de uma Hollywood conservadora e apática? Acho que não, mas que vai ser legal, isso vai.
P.S.: quem não tem TV paga na Bahia para assistir ao Globo de Ouro provavelmente ficou tão aborrecido quanto eu. Apesar da iniciativa pioneira do SBT de transmitir a cerimônia ao vivo, pela primeira vez na TV aberta brasileira, quem mora na Bahia viu o "ao vivo" gravado. Simples. A TV Aratu, afiliada do SBT aqui, desde o começo do horário de verão, grava sua programação e exibe uma hora depois, sob a lógica de sincronizar o horário dos programas exibidos com o anunciado na rede. Sério. Anunciar às 22h30 e passar às 21h30 não pode, mas anunciar "ao vivo" e passar gravado ao vivo, não é problema.
Bem que o Globo de Ouro poderia ter sido menos previsível. Quase tudo o que se esperava aconteceu. Surpresa, supresa, não teve nenhuma e a ordem foi manter intactos os dois favoritos: O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee, entre os dramas, e Johnny & June, de James Mangold, na categoria dedicada às comédias e aos musicais. O primeiro levou os prêmios de filme, direção, roteiro e canção; o segundo ficou com filme, ator e atriz, cada qual em seu quesito.
O filme de Ang Lee parte como grande favorito ao Oscar. Antes era apenas favorito. O Globo de Ouro fez ele ficar grande. Seria ousadíssimo um filme sobre um romance entre dois cowboys, o símbolo máximo da masculinidade norte-americana, ganhar o Oscar em plena era Bush. O apoio da crítica e a simpatia ao diretor e à dupla de astros jovens são pontos fortíssimos. O filme parece que só concorre contra si mesmo, contra o tradicionalismo e a velharia que muitas vezes impera em Hollywood.
Ang Lee, que eu acreditava que poderia ser ameaçado, sobretudo no Globo de Ouro, por George Clooney na categoria de direção. A Associação dos Correspondentes Estrangeiros adora Clooney, mas preferiu premiá-lo como coadjuvante e entregar o prêmio maior para Lee. Agora, com este aval, o cineasta chinês segue pleno para o Oscar. Resta saber o que vai dizer o Sindicato dos Diretores. A vitória do roteiro não chegou a ser uma surpresa, ainda que Crash e Boa Noite, e Boa Sorte. parecessem ter mais chances.
Heath Ledger, ator, e Michelle Williams, atriz coadjuvante, não ganharam, mas têm indicações certas. Jake Gyllenhaal, que não conseguiu ser finalista no Globo de Ouro, também tem boas chance de disputar o Oscar. O problema do elenco do filme é que todos são muito jovens e a Academia prefere candidatos mais maduros. Além disso todos têm adversários fortes para enfrentar. Philip Seymour Hoffman, por Capote, é mais do que nunca favorito como melhor ator. Felicity Huffman, na mesma escala, se consolida como principal candidata à estatueta de melhor atriz.
Os resultados do Globo de Ouro enfraquecem um pouco as candidaturas de George Clooney e de Boa Noite, e Boa Sorte., embora filme, roteiro e diretor devam estar na lista do Oscar e devem permanecer bem cotados. A vitória de Clooney como coadjuvante, por Syriana, não dá tanta certeza de prêmio para ele no Kodak Theatre. Se tivesse ganho como diretor, estaria mais cotado. Ainda acho que Paul Giamatti, por A Luta pela Esperança, preterido de indicação por duas vezes seguidas, e Matt Dillon, por Crash, numa proposta retorno do limbo, têm mais chances.
A vitória de Rachel Weisz, no entanto, viu sua candidatura com chances multiplicadas. Parece ser a única possibilidade de prêmio para O Jardineiro Fiel. Derrotou Scarlett Johansson, por Ponto Final, que cada vez mais aparece enfraquecida na disputa, mas não teve que enfrentar Maria Bello, pelo excelente Marcas da Violência, que foi indicada como protagonista embora tenha recebido campanha do estúdio como coadjuvante.
Entre as comédias e musicais, não sobrou nada para os concorrentes de Johnny e June, que levou o prêmio principal e mais os de ator para Joaquin Phoenix e atriz para Reese Whitterspoon. Os dois, embora o setor seja menos bem cotado do que o de drama, podem surpreender nas categorias de ator e atriz no Oscar, já que existe uma tradição de premiar - ou pelo menos indicar - biografias (ainda mais de ídolos pop... no caso o cantor country Johnny Cash).
Se o quadro desenhado pelo Globo de Ouro for reprisado no Oscar, tadinho do George Bush, que anda meio antipatizado por Hollywood. Um romance entre dois homens ganharia como filme, direção e roteiro. O melhor ator seria o intérprete de um celebrado escritor gay e a melhor atriz ganharia pelo papel de um transexual. Mas se der coisa diferente, Bush ainda pode se sentir incomodado: George Clooney dirigiu um drama contra a caça aos comunistas e estrelou um thriller político; Crash, apesar de muito ruim, não olha a América como bons olhos; O Jardineiro Fiel ataca os grandes conglomerados; e Paradise Now, favorito para filme estrangeiro, é um filme palestino sobre dois homens-bomba. Seria o fim de uma Hollywood conservadora e apática? Acho que não, mas que vai ser legal, isso vai.
P.S.: quem não tem TV paga na Bahia para assistir ao Globo de Ouro provavelmente ficou tão aborrecido quanto eu. Apesar da iniciativa pioneira do SBT de transmitir a cerimônia ao vivo, pela primeira vez na TV aberta brasileira, quem mora na Bahia viu o "ao vivo" gravado. Simples. A TV Aratu, afiliada do SBT aqui, desde o começo do horário de verão, grava sua programação e exibe uma hora depois, sob a lógica de sincronizar o horário dos programas exibidos com o anunciado na rede. Sério. Anunciar às 22h30 e passar às 21h30 não pode, mas anunciar "ao vivo" e passar gravado ao vivo, não é problema.
6 Comments:
Ridiculo o SBT anunciando ao vivo com 1 hra de atraso. Muito previsivel mesmo, das 10 apostas acertei 10.
By Anônimo, at janeiro 17, 2006 2:40 PM
È.. Aqui em Fortaleza também aconteceu esse atraso de uma hora, Chico.
Rapaz, vou mandar fazer um abaixo assinado pra vc entrar no lugar do REF para ser nosso comentador oficial do Oscar!
By Ailton Monteiro, at janeiro 18, 2006 5:29 AM
E quanto ao conservadorismo de Hollywood, nem vejo tanto assim. Conservadores são os políticos e a sociedade em sim. O cinema quase sempre foi bem crítico e liberal.
By Ailton Monteiro, at janeiro 18, 2006 5:30 AM
O REF não sabia os indicados a musical/comedia e chamou a ultima noite de a ultima hora. e isso ele ainda tava lendo o papel.
By Ed, at janeiro 18, 2006 8:05 AM
O que me deixou mesmo puto foi a Rubeca falando mal do "Hulk".
By Marcelo V., at janeiro 18, 2006 8:33 AM
Ah, o Rubens, sem pancake (ou com menos), nem merece ser avaliado por isso porque ele é aquilo ali mesmo. O problema é que el ficou muito mais simpático ao lado daquela moça.
Ed, nessa hora ele se atrapalhou. Mas eu acho que foi um branco mesmo, não que ele não soubesse. Se ele tem uma qualidade é capacidade de catalogar. E quanto ao papel, ele consultava. Isso numa transmissão ao vivo deste porte é super-normal.
By CHICO FIREMAN, at janeiro 18, 2006 1:07 PM
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